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Rota da cachaça
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- Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras
Da redação - Onévio Zabot - 22/8/2022 - 16h58min
Grupo de produtores de cana-de-açúcar de Joinville - ações previstas para o ano 2022 - excursão para Massaranduba e Luiz Alves. Antes, em 2018, estiveram em Morretes, litoral paranaense.
A partir de demandas do setor, unem-se. Trocam experiências. Oxigenação é tudo. O desafio: melhorias no sistema produtivo e no processamento dos derivados.
A Epagri e a Secretaria Municipal de Agricultura - através de Unidade de Desenvolvimento Rural -, participam. Instigam. Manter a chama acesa - a bandeira. Integram o grupo lavradores com finalidades distintas: produtores de cana para garapa ou melado. Forrageira para o gado, ou silagem. Ou então cachaça. Bordão a instiga-los: - "Em time que tá ganhando não se mexe".
Madrugadita, enturmados, boa prosa, expectativa. Transporte cotizado, portanto, pago por cada participante. Antes da partida Dione - recifense da gema -, puxa um Pai Nosso alongado. De mãos dadas todos oram. Corrente positiva.
Primeira etapa da viagem: Massaranduba, propriedade da família Luchetta. Parte alta. Terras firmes. Braço pra todo o lado: Primeiro Braço, Segundo Braço, Braço Seco, Braço Costa. Braços e abraços por ali não faltam; percebe-se.
Recepção calorosa, saboroso café colonial. Pão caseiro, cuca, bolachas, tudo pelas mãos de dona Delminda - a patriarca -, e Nair sua nora. Geleias, melado e mel. Ah, linguiça caseira e queijo. Queijo maturado. Alguns participantes, de faceiros, estalavam a língua. Bom demais.
Sérgio e Marcelo, anfitriões, esbanjavam carisma. O sítio, de longa data, é referência em piscicultura. Os irmãos tem ativa participação uma Associação dos Piscicultores de Massaranduba (APISMA), uma das mais ativas de SC. A essa atividade incluíram outras: ambiente para eventos, moto-trilhas. E, por último o alambique - joia da coroa -, sonho de Sérgio.
Sérgio discorre sobre a trajetória da família. Imigrantes italianos que adentraram à região via Porto de Itajaí, meados do final do século XIX. Tradicionais produtores de fumo, cerais e cana-de-açúcar. De aves e de suínos. E de gado de leite. A piscicultura veio depois. E o turismo rural, a bola da vez. Preparam-se para esse novo ciclo. Sérgio é experiente, atuou no setor de vendas e no setor bancário. Traz, portanto, uma bagagem considerável.
Fica claro: no campo começa um novo ciclo: gestão profissional da propriedade com forte viés turístico. Atuam diretamente ou integram-se. Alguns atendem o público - outros, na linha de produção -, buscam complementar a renda suprimindo demandas na área de gastronomia e do artesanato. Points de atratividades locais - provocam o surgimento de novos arranjos produtivos. Como incubadoras, potencializam oportunidades.
Na mesma pegada ocorre a valorização do patrimônio natural e da paisagem; surpreendem, pois nem os próprios moradores se davam por conta da presença desse tesouro.
E Marcelo, irmão de Sérgio que cuida da piscicultura, reverbera bem humorado: ultimamente morcegos gigantes, urubus e o socó grande incomodam. Ora, porque, indagamos. Simples: também apreciam peixes, especialmente miúdos. Gargalhada geral.
Wilson, gerente de agricultura do município que prestigia o evento não deixa por menos: - Vamos dar um jeito nisso.
Quanto ao alambique recém instalado, a surpresa: segue o padrão preconizado pelo Ministério da Agricultura. Regularização à vista. Embora as exigências, Sérgio recomendam aos alambiqueiros presentes: - Aproveitem a oportunidade. Regularização é a chave do sucesso. O processo é moroso, mas compensa. Após degustarmos umas e outras devidamente aprovadas pelo grupo, especialmente pelo Osório, seguimos em frente. Agora para Luiz Alves, Terra Nacional da Cachaça.
Recebidos por Orécio Rech e familiares - tradicionais alambiqueiros do Município - nos informam sobre a criação do Roteiro da Cachaça. E da grande conquista, asfaltamento de todos os acessos. Um feito e tanto.
Luiz Alves é conhecida e reconhecida historicamente pelos alambiques presentes no município. No auge, 323 informa Orécio. Depois veio a cachaça de fora muito mais barata e a atividade gradativamente foi minguando. Hoje restam pouco mais de meia dúzia.
No entanto, um novo cenário se desenha. Produto de qualidade, fermentado a partir do melado, este em parte proveniente de outras praças. Mas a arte e técnica de alambicar e, sobretudo, o envelhecimento em barris de carvalho e umburana, a diferencia. Assim como a linha de licores. Alguns com frutas nativas da região como araçás e jabuticabas.
O Roteiro da Cachaça se insere no contexto turístico, tendo Balneário Camboriú como catapulta propulsora. E, é evidente, o Parque Beto Carreiro World. E as praias, obviamente.
E sobre alambiques, em tempo, uma pérola: no livro Origens da Química no Brasil, Carlos A.L. Filgueiras, reporta-se a João Manso, autoditada que inovou em termos de alambicagem. Legou-nos a obra: Memória Sobre a Reforma de Alambiques para Destilação de Águas Ardentes, lançado em Portugal, ano de 1797. Um clássico.
A surpresa da andança: piquenique no final da proveitosa visita, em pleno bosque - elevado que abriga a Gruta de Nossa Senhora da Conceição.
Alvissaras! Luiz Alves - Paraíso do Vale -, mais do que justa a homenagem. Ousaria, no entanto, contemporizar: mais do que isso: paraíso de boa gente.
Dione da Epagri, eufórica, não se contém: - Assim retornamos novamente.
Joinville, 20 de agosto de 2022
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